Nas mãos já calejavam calos, pois ela usava a vassoura na mesma posição. Sentia que a cada vassourada seu tempo se esvaía junto com a poeira. Se sentia velha e descuidada. E era um serviço que não acabava nunca e isso dava uma agonia danada.
Seu aniversário chegava e sua pele já não mais possuia o viço de antes. Seus cabelos também não. Os fios brancos que teimavam em não serem cobertos pela tinta, ela arrancava com pinça, num ato insano de tentar enganar o nascimento de outros. Mas esses como a poeira teimavam em retornar.
Hoje ela quebrou uma unha. Estava cultivando um comprimento perfeito e mesmo usando luvas durante a limpeza - medida que decidiu recentemente - a unha lascou, bem num lugar impossível de cortar sem sangrar. E, agora, dá topada com a desgraçada da unha quebrada em tudo quanto é canto. Freud se referiu a bater com machucados em algum lugar, e isso queria dizer... ela não lembrava de onde leu ou ouviu - e pior - não lembrava se realmente tinha ouvido ou se estava gagá.
Mas o fato de questionar se estava gagá ou não, devia fazer confirmar um pouco de consciência. Ou será que não era tudo sonho?
Ótimos textos. Tb me arrisco vez ou outra nesta seara. Qdo puder e quiser, visite: www.euseicozinhar.blogspot.com
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