terça-feira, 14 de dezembro de 2010

um emaranhado de sons...




meus ouvidos estão confusos ou escuto mesmo uma  mistura de grilos, sons de noite depois da chuva, televisão ligada, chuva, ruído, ai...ai..ai...a chuva venceu. Barulhinho único. Estalando folhas, estatelando gota na terra, perfumando o ar. Vento, friozinho, carícia neste fim de noite quente. Assim podia ser sempre, sem alagamentos, apenas para refrescar. Resfria o espírito, inspira, amadurece, acalma.
...é fechar os olhos e viajar. Pra onde iria eu? Que lugar? Com que rapidez? Nostalgia de fim de ano anunciado. Natal, luzes, coração aquecido, meio doido, porém mais consolado. Cheiro de avelã, rabanada, sons de falas queridas, umas presentes, outras na memória. Guarde sempre meus ouvidos esses sons e outros para que nos momentos de tristeza, solidão ou espera eu possa apenas fechar os olhos e ter companhia. 

sábado, 11 de dezembro de 2010

No viés do vento

...o vento assoviava. Dava-lhe uma agonia desgraçada. Rolava na cama, tentando espantar o incômodo. Mas as vidraças batiam. O suor a escorrer pela testa. Aí se irritava, batia com as mãos na cama. Espichava o punho até a cabeceira e olhava o relógio, as horas passavam velozes e ele lembrava que acordaria cedo. Um gosto amargo na boca e do estômago um friozinho perpassava quando pensava no dia seguinte. Não haveria mais desculpa, tinha que terminar o serviço.
Será que ninguém o havia seguido? Será que tinha limpado tudo da melhor maneira? Será que morto não acorda? Seria um sonho? Perambulavam pela sua cabeça dúvidas que dilaceravam sua razão. Teria ele mesmo sido capaz de tal ato? 
Ele seguia como sempre pela mesma calçada. O dia era quente, mas sentia-se feliz, finalmente resolvera que precisava assumir e endireitar a vida da pobre moça. É certo que fora alarme falso, a gravidez desconfiada alguns meses antes era agora passado, assim que as regras de Regina desceram. Mas ele gostava dela. Era simploria, mas era bonita. Não era inteligente, mas era esperta. Se era de família desconfiava que não, mas parecia ser correta. Limpa, com curvas, cabelos sedosos, hálito bom. 
Poderia ser uma companheira interessante. Então atravessou a rua, o coração nesse instante disparou. Viu o apto com a luz acessa. Em sobressalto, viu a porta aberta. Subiu as escadas, meio sem entender.  
Entrou. Chamou. Chamou novamente e nada. Seguiu pelo corredor. E um frio na espinha o fez parar na porta. Só viu os pés. Num vai e vem. Tontura. A cabeça rodou. O rosto que o olhou era conhecido. Um vulto correu e ganhou a rua. Só ficou ele e Regina. Ela o fitou com medo. Sua expressão devia ser assustadora. Ela começou a chorar baixinho, pedia perdão. Ele só lembrava dos dedos no macio pescoço e um barulho surdo. Um estalo. E ela mole, os olhos agora não eram de suplica, eram nada.
Seus olhos, os dela. Nada. O vento cantava, triste, um lamento...