sexta-feira, 28 de maio de 2010

O calo que descasca...

Nas mãos já calejavam calos, pois ela usava a vassoura na mesma posição. Sentia que a cada vassourada seu tempo se esvaía junto com a poeira. Se sentia velha e descuidada. E era um serviço que não acabava nunca e isso dava uma agonia danada.
Seu aniversário chegava e sua pele já não mais possuia o viço de antes. Seus cabelos também não. Os fios brancos que teimavam em não serem cobertos pela tinta, ela arrancava com pinça, num ato insano de tentar enganar o nascimento de outros. Mas esses como a poeira teimavam em retornar.
Hoje ela quebrou uma unha. Estava cultivando um comprimento perfeito e mesmo usando luvas durante a limpeza - medida que decidiu recentemente - a unha lascou, bem num lugar impossível de cortar sem sangrar. E, agora, dá topada com a desgraçada da unha quebrada em tudo quanto é canto. Freud se referiu a bater com machucados em algum lugar, e isso queria dizer... ela não lembrava de onde leu ou ouviu - e pior - não lembrava se realmente tinha ouvido ou se estava gagá.
Mas o fato de questionar se estava gagá ou não, devia fazer confirmar um pouco de consciência. Ou será que não era tudo sonho?