terça-feira, 6 de abril de 2010

De pernas pro ar!

Ela não era uma moça fácil. Tinha pensamentos bem confusos desde cedo. Se sentia deslocada. Mas tentava agradar. E não conseguia ou conseguia algumas vezes. Mas o que ela queria esconder? Por que não mostrava a moça destemida, a extravagante, a divertida com ideias revolucionárias? Por que se escondia atrás da imagem de boa moça? Do que tinha medo?
Enquanto ia sacundindo no bonde, pensava exatamente isso. Mas quando pensava em colocar pra fora que nem golfada de bebê seus verdadeiros sentimentos dava preguiça.  E permanecia naquela inércia, naquele corpo quase transparente, queria mesmo que ninguém a visse.
E ia olhando em volta. Gostava de olhar! Gostava de olhar sem ser vista e quando olhava imaginava muitas histórias. As pessoas eram outras, em outras épocas, com dramas, com segredos pecaminosos, com maldades dilacerantes. E ria, um riso tímido, mas por dentro era uma gargalhada só, estridente, quase de pomba gira! E sacudia de tanto rir, com as pernas escancaradas!